Música para a celebração do matrimônio

O canto na Igreja
AVISO: Este é um post de utilidade pública feito pensando em você que quer casar na Igreja Católica e não sabe muito bem o que está acontecendo.

-- Por Ton

Uma dúvida comum que se tem quando se vai casar na Igreja Católica é quanto às músicas que podem ser cantadas numa celebração de casamento católico (matrimônio). Cada paróquia e capela tem sua prática. Tem padre que deixa cantar música popular, tem outros que fixam que só música sacra. A grande maioria inclusive pede para supervisionar as músicas escolhidas alguns dias antes da cerimônia, com eventuais censuras de alguns cânticos. Mas o que pode ou não segundo a norma geral da Igreja?

Bem, o "Ritual do Matrimônio" decretado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino e os Sacramentos (uma espécie de Ministério da Liturgia do Vaticano) traz poucas disposições a esse respeito. 

O § 29 diz que "a própria celebração deverá preparar-se cuidadosamente, tanto quanto possível com os nubentes", ou seja, o pároco com os noivos prepararão a celebração juntos, escolhendo, entre diversas outras coisas, "as intenções da oração universal e dos
cânticos" (sic).

Mas o item mais específico das instruções preliminares do Ritual é o § 30, que diz:

"Os cânticos a utilizar sejam adequados ao rito do matrimónio e exprimam a fé da Igreja, tendo em conta de modo especial a importância do Salmo responsorial na liturgia da Palavra. E o que se diz da escolha dos cânticos vale também para a escolha das obras musicais."

Assim, numa celebração católica de matrimônio, o casamento, elevado à dignidade de sacramento, deve ser também uma profissão da fé dos noivos e da comunidade ali presente, de modo que também os cânticos devem transparecer essa fé.

Tá, mas quais cânticos deve haver? Em se tratando de matrimônio realizado fora de missa, podemos vislumbrar alguns:

  • Cântico de Entrada (§ 81): é um cântico previsto quando há uma procissão de entrada com o sacerdote à frente, atrás os noivos e as testemunhas. Mas e quando o padre espera os noivos no local onde eles ficarão durante a celebração (segundo modo)? Devemos pensar na alma da prescrição. Se o canto de entrada tem caráter processional, se for feita uma procissão de entrada dos noivos e padrinhos ao encontro do sacerdote, nada impede - ao contrário, recomenda - que se cante um cântico de entrada. Há costume no Brasil de que se cante um canto para cada personagem distinto que entra na procissão (padrinhos, noivo, noiva). Não há previsão neste sentido, mas da mesma forma que se pode cantar diversos cantos de entrada na liturgia eucarística, pode-se cantar mais de um cântico na entrada dos nubentes e testemunhas (padrinhos).
  • Salmo responsorial: O § 90 diz que "segue-se a liturgia da Palavra, segundo o modo habitual". O modo habitual é o salmo responsorial cantado, conforme a Introdução Geral do Missal Romano, 3ª ed., § 61. O próprio § 30 do Ritual do Matrimônio afirma a importância do salmo cantado. Este é um dos mais importantes cantos da liturgia devido ao seu caráter meditativo.
  • Aleluia e Versículo antes do Evangelho (§ 56): Este é o canto comumente conhecido como "aclamação ao evangelho", mas a rigor, tem um formato fixo de aleluia + versículo. Em casamentos no tempo da Quaresma (entre a Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa), não se canta "aleluia", mas um refrão meditativo + versículo.
    • Bendigamos ao Senhor (§ 99): após aceitar o consentimento, o padre canta "bendigamos ao Senhor", e os fiéis respondem "graças a Deus". Na prática, nem todo padre canta, e se cantar, não precisa da ajuda de cantores do coro. Próxima.
    • Canto da procissão das alianças: É costume cantar um canto para a entrada das alianças, porque geralmente elas entram em procissão até o altar. Porém, não é algo previsto pelo Ritual.
    • Canto de louvor após a troca de alianças: Após a troca de alianças, está previsto um canto ou hino de louvor no Ritual (§ 102). Não é comum, mas às vezes tem. Você talvez se lembre de algum casal, depois de trocar alianças, se beijando e comemorando no altar enquanto as pessoas batem palmas e os cantores cantam algo. A ideia do canto aqui é um canto de louvor a Deus pelo casal que se deu em matrimônio um ao outro. Não confundir com o chamado "hino de louvor" das missas, que, na verdade, é o canto da antiquíssima oração do "Glória".
    • Canto de Comunhão (§ 113), previsto para quando os noivos comungam na celebração. Aqui se aplicam, no que couberem, as normas a respeito da Comunhão como parte da Missa, em especial, a Introdução Geral do Missal Romano, §§ 86 e 87, que dizem:
    • "Enquanto o sacerdote toma o Sacramento, dá-se início ao cântico da Comunhão, que deve exprimir, com a unidade das vozes, a união espiritual dos comungantes, manifestar a alegria do coração e realçar melhor o carácter 'comunitário' da procissão daqueles que vão receber a Eucaristia. O cântico prolonga-se enquanto se ministra aos fiéis o Sacramento. (...) Como cântico da Comunhão pode utilizar-se ou a antífona indicada no Gradual romano, com ou sem o salmo correspondente, ou a antífona do Gradual simples com o respectivo salmo, ou outro cântico apropriado aprovado pela Conferência Episcopal. Pode ser cantado ou só pelo coro, ou pelo coro ou por um cantor juntamente com o povo. (...)"
    • Ou seja, em geral, o cântico da Comunhão tem caráter processional, por causa da procissão para recebimento da Comunhão que se forma nas igrejas durante a missa. Em celebrações do matrimônio fora de missa, é costume dar a Comunhão só aos noivos, mas nada impede que se distribua a Comunhão a todos os que assim o desejarem (e estiverem espiritualmente preparados para tanto conforme as normas). O Ritual (§§ 111-114) nada diz que se oponha a isso; ao contrário, diz "Depois [o ministro] aproxima-se dos comungantes e, elevando um pouco a hóstia, apresentada a cada um deles, dizendo (...)", sem especificar "nubentes". Porém, não havendo procissão, ainda sim o cântico da Comunhão é útil, ao exprimir "a união espiritual dos comungantes (e) manifestar a alegria do coração". Mais do que nunca, aqui deve ser um canto cristocêntrico, pois, neste momento, a união espiritual dos comungantes se dá pelo Corpo de Cristo que está sendo ingerido por eles.
    • Cântico após a Comunhão (§ 113): O Ritual nada diz a respeito deste canto. A Instrução Geral do Missal Romano fala dele no mesmo lugar do cântico de comunhão, dispondo que "se se canta um hino depois da Comunhão, o cântico da Comunhão deve terminar a tempo." (IGMR, § 86). Este "a tempo" significa ao fim da distribuição da Comunhão. O cântico após a Comunhão fica, pois, APÓS a Comunhão, enquanto são purificados os vasos sagrados. Este cântico não tem uma função específica; inclusive, o IGMR fala em silêncio depois da Comunhão, dizendo que este "favorece a oração interior de louvor e acção de graças" (IGMR, § 45). Se essa é a função do silêncio, o canto que substitui tal silêncio deve cumprir o mesmo papel. Logo, seja um canto que favoreça o louvor interior e a ação de graças.
    • Canto final: Este não está previsto no § 117 (que fala da conclusão da celebração), mas pode-se usar analogicamente o § 151, que trata do rito do matrimônio perante um assistente leigo, e prevê, durante as assinaturas, um "cântico apropriado" na conclusão da celebração. Na prática, este é um momento demorado. Os noivos, as testemunhas e o padre assinam o livro de registro de matrimônio e depois saem em procissão pela nave da igreja. É costume, então, tocar músicas religiosas durante as assinaturas e durante a procissão de saída, podendo ser um cântico para cada momento, desde que não se alonguem demais.
    Algumas dessas músicas podem, ainda, ser omitidas, como uma das duas das alianças, o canto após a comunhão. Parece difícil? Na prática não é não! Claro, se você conhecer música católica como nós conhecemos (o Ton MUITO mais do que a Mari) a coisa fica mais fácil, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Agora, é importante você contratar músicos que conheçam a Igreja Católica e sua espiritualidade, e que tenham costume de cantar em casamentos católicos.

    "Tá, gente, mas isso é muito abstrato para mim. Dá para vocês darem algumas sugestões?"

    Dar até podemos, mas elas certamente não são exclusivas, e não necessariamente são as melhores. Certamente, nesse mundo de meu Deus, há várias outras canções tão ou mais adequadas aos momentos. Mas segue uma lista para quem quiser dicas:


    Se estas serão nossas músicas no dia? DESCUBRA.

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